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As cicatrizes todas

by Photomaton

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1.
O meu carro cheio de riscos A minha vespa cheia de mossas O meu corpo cheio de marcas As cicatrizes todas. O que mais possuímos lembra-nos Como estamos sempre definhando Como nada se mantém puro Como a perfeição é um momento Irrelevante Nada é novo senão por Um instante. Tudo é uma fragilidade contínua A todas horas Somos recordados Da impossibilidade de iludirmos A passagem do tempo. E para quê? Se estamos morrendo Para que queremos a perfeição, De que nos serve a novidade? Melhor morrermos cheios de vida De riscos, de mossas, de marcas, De cicatrizes De provas silenciosas de que Somos caminho, direcção, Acaso e alento Somos Uma colecção de diversões Uma biografia inevitável De metal e de carne, Provando que não esperámos a morte Quietos Não provámos o tempo Timidamente. Arriscamos e cicatrizamos Continuamente.
2.
Há pessoas a correr para as ruas Há pessoas a gritar “isto assim não pode ser” E há caixotes a arder, caixotes a arder Há montras partidas partidas, Pessoas a sangrar Há quem diga “daqui não saio, daqui não saio” Nem que me arrastem pelo chão E há caixotes a arder, caixotes a arder Mas isso não é cá, é na TV Cá estamos todos bem Passamos todos mal, Mas estamos todos bem Estamos de mão estendida Mas está tudo bem Vamos estando cá, no cá se vai andando Desde que pareça tudo bem Nunca há de haver, caixotes a arder Nunca há de haver cá! Caixotes a arder
3.
Dizem, dizem 03:34
Dizem que tenho os olhos raiados de sangue A língua com aftas e a boca gretada Dizem que já nasci velho E mal me mexo Que mal me encosto Logo adormeço Dizem que falo pouco E não olho nos olhos Eu encolho os ombros E fico calado Dizem que sou perverso E nasci no Inverno Eu digo-lhes que sou ateu Não acredito no inferno
4.
Sofá 03:50
É a quarta, a quinta, a sexta vez que me dizes para ir lá fora outra vez A quarta, a quinta, a sexta vez que me dizes que eu não passo de uma má rês Fico bem por cá Fico bem no sofá Fico bem por cá Fico bem no sofá É a quarta, a quinta, a sexta vez que me dizes para ir lá fora outra vez A quarta, a quinta, a sexta vez que me dizes que eu não passo de uma má rês Fico bem por cá Fico bem no sofá Fico bem por cá Fico bem no sofá Não sou de planos ou de rectas Impecavelmente desenhadas Sou desalinho e de contra-planos Para mim, por ti O amor é multiplicado. Fico bem por cá Fico bem no sofá Fico bem por cá Fico bem no sofá
5.
Se souberes 02:54
Pensa numa daquelas pessoas que falam demais e perto demais e alto demais Pensa no que te dizem e depois percebes que nada tens acrescentar Pensa no teu dia-a-dia e elabora uma reflexão e uma introspecção e uma dissertação Pensa na conclusão e depois percebes que não tens nada a acrescentar se souberes o que eu penso e imaginares o que eu sinto e sonhares o que eu faço vais ficar desiludido
6.
54 04:15
A torneira não para toda a noite Naquele gotejar ternário De um, dois, três Porra de compasso Os canos ferrugentos a chiar O meu dorme-não-dorme Em cristais de sais Que ora estalagmites Ora estalactites A janela que não fecha e dança Entre a calha e a madeira do soalho E bate O frigorífico que de meia em meia hora Acciona um mecanismo estranhíssimo Que o faz vibrar por toda a casa E eu tenho frio O chão que geme e chia Como se alguém por ele caminhasse Aos apalpões no escuro As portas que entreabrem Deixando a casa respingar Não vejo e durmo Não vejo e sonho Que danças na água Danças como se saltasses no rio A entrada da água tem muito impacto Quando abres os braços para o mundo (Quero ver a água a borbulhar, eu quero muito splash!!) E ao lado ronca-se Um nariz eléctrico Respira frenético A vizinha de cima Não escolhe as horas para rezar Alguém lhe diga que o pecado a pode Humanizar? O cão que ladra rouco Anunciando o vulto que desce pela rua Espiolhando o lixo alheio O motor do primeiro autocarro Fugindo da madrugada a aparecer
7.
Maria Antoinette Digo adeus às coisas que desejei e às que amei pelo simples facto de existirem de todas fui no dia em que as toquei em que me tocaram nada existe agora a não ser o que foi esquecido
8.
Não acordo de manhã Sem me queixar Das costas e do ar Ainda agora me deitei E já são oito da manhã Há desejos que queimam em cal viva Há dores que surgem do espaço Há risos que espantam os dias E choros que enlouquecem as noites Não acordo de manhã Sem me queixar das costas e dor ar Ainda agora me deitei E já são oito da manhã Há pensamentos que bloqueiam a aorta E fazem parar o miocárdio Há moradas que não se esquecem E lugares que nunca aquecem Amanhã já não acordas de manhã Na cama que fizeste com afã Vais embora sem despedidas Entre as chegadas e as partidas Sem promessas de até já Ou até à volta para cá Como podes adormecer sem Orares a deus E odiares dizer adeus? Não dormi nada a noite inteira
9.
Luz violenta 03:19
O sonho evapora aos primeiros raios de sol Em espasmos violentos como um peito aberto Soçobrando à corrupção do veludo E o grito rápido e seco escapado por entre os dentes As gotículas de suor escorrendo através dos poros Sabendo-se espessas, salgadas e turvas Descendo da testa ao queixo Saltando pelos olhos Remoendo o sono, digerindo o sonho em gemidos... A noite que passa a dia numa questão de luz Num acordo resignado pela partilha de uma cruz E o sonho que permite a vigília vigiar-nos a sombra De um inominável medo e o receio Do acordado... bloqueio Num minuto Por um minuto Só num minuto
10.
Até Já 03:30
Como vamos de um momento para o outro suportando o meio termo? Eu defendo o desejo, o desejo conhecido, O desejo que se conhece por dentro Estas são as mãos que conheces Como sendo as mãos que recolhem E contraem e retraem E ficam nos bolsos Estas são as mãos Estas são as mãos Estes são os dedos São as mãos Estas são as mãos As mãos, as mãos Se disseres até já, Se disseres até já

credits

released January 20, 2017

Gravado no Estúdio Q.
Misturado por Tiago Abreu.

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Photomaton Lisboa, Portugal

Photomaton é uma banda de Lisboa.

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